- Não, não quero mais falar com você – Ela estava ficando
com raiva, mas existia uma tristeza em sua fala como se em algum momento ela
fosse desabar e começar a chorar.
- Eu preciso que você me escute ao menos isso. – Ele se aproximava
devagar, sabia que não podia deixar para depois, aquele era o momento de
colocar tudo para fora e resolver a situação.
-Não, eu não quero... – ela respondia com menos força do que
das primeiras vezes.
Ela encostou na parede com a lateral de seu corpo,
escondendo o rosto, seu cabelo caia um pouco sobre seu rosto, seus olhos tinham
uma mistura muito perigosa de raiva e dor.
Ele se aproximou e com sua mão tentou puxa-la para mais
perto, ela se recusa e ele se contentou com apenas deixa-la de frente a ele,
ela não o olhava apenas alterna entre alguns “não’s” e se desvencilhava sempre
que ele tentava tocar seu rosto ou sua mão.
Tudo aquilo já era demais, não adiantava mais fingir que
nada tinha acontecido, ou que não era o momento certo para terem uma conversa,
e por mais errado que fosse aquele momento, ainda precisava acontecer, ou ao
menos era o que ele ficava repetindo para si mesmo.
Ele então parou, deu um passo para trás, e deu um pouco de
espaço para ela, que com essa ação, se endireitou e o olhou, seus olhos um
tanto vermelhos, suas mãos segurando os próprios braços, como se tentasse se
fechar para toda aquela situação.
Depois de alguns segundos se olhando, ele respirou fundo
mais uma vez e começou a falar:
- Olha eu sei o que passa pela sua cabeça, eu sei o que você
sente, eu só quero que você seja sincera comigo.
Mais uma vez ela baixou seu olhar, e em resposta ele
levemente tocou seu rosto, agora coberto por mechas de cabelo, ele a olhou
novamente nos olhos e decidiu continuar.
- Você ama ele... tudo bem, mas apenas me diga... eu sei de
tudo o que aconteceu... ele é importante para você? – suas mãos tiravam os fios
que ainda restavam sobre a face dela, e logo uma mão estava sobre o braço dela,
e a outra insistia em tocar-lhe o rosto, era como se ele precisasse senti-la, ter
qualquer confirmação de que aquilo estava acontecendo de que ela o estava
ouvindo.
- Mais que droga, eu gosto de você, e eu percebi que não
estamos em sintonia... para você é diferente... eu apenas preciso que você fale
comigo...
- Porque você fica dizendo isso? - ela finalmente falou, mas sua voz ia
começando a sair com dificuldade, a qualquer momento ela podia começar a
chorar. – Você fica colando essas
palavras, como se eu tivesse dito... e como se...
Ela apenas a olhava, com um pouco de surpresa.
-Eu nunca disse nada disso, e eu não quero dizer, eu não
preciso dizer nada disso – ela continuava como se tivesse tomado folego para
dizer apenas essas palavras, e as próximas vieram num tom mais baixo.
- Eu amo você – Ela falou, e uma lagrima desceu por seu
rosto. – eu te amo...
- Mas eu.... – ele realmente pensou em iniciar sua fala
novamente, mas apenas falou – Eu te amo muito, é sério, eu realmente preciso de
você, eu quero significar mais, quero ser importante para você, quero estar com
você... eu apenas te amo.
Seus olhares carregavam um tipo de culpa, ansiedade e
confusão. Era assim que suas mentes estavam; uma mistura de emoções e
sentimentos e muitos deles tão contrastantes, a raiva que ela sentia por ter
evitado aquilo até aquele momento, e raiva dele por ter insistido tanto em ter
aquela conversa, mas estava tão feliz por conseguir responder claramente e sem dúvidas
em seu coração.
Apenas mais algumas palavras foram ditas, mas dessa vez ao
mesmo tempo e com a respiração descompassada:
- Eu te amo – Os dois se olhavam enquanto as palavras eram
desenhadas por seus lábios.
Ele tomou a iniciativa, sua mão descia pela nuca dela, e a
outra envolvia sua cintura, enquanto as duas bocas seguiam buscando uma a
outra, numa beijo que tinha tanta paixão, que parecia que eles haviam esperado
uma vida para consumar aquele ato.
De longe, eles eram apenas mais um casal, ela com os braços
em volta do pescoço dele, e ele a segurando pela cintura, intercalando beijos,
sorrisos e olhares, que finalmente só transmitiam alegria, mesmo com as
lagrimas que insistiam em percorres suas faces.
Bruno P. Trajano