Cabeça baixa. Caminhar rápido, o mais rápido que pudesse dar,
enquanto tentava não ser notado. A postura não negava seu desconforto. Braços
colados ao corpo, apertando a alça da mochila contra o ombro. A chinela não
queria ficar no pé, tinha quebrado de vez. Ele só queria chegar na rua de casa,
aquilo lhe bastaria pra tirar o calçado do pé, e correr pra casa, lá ele
tentaria ver se outro prego funcionaria, mas no fundo sabia que não era mesmo
uma opção; só que jogar fora também não.
- Droga. - Lembrou que o lápis e a caneta não estavam mais com
ele. Tinha emprestado. Tinha emprestado? Certeza que não iam mais aparecer. Ele
só entregou porque não podia mais arranjar confusão, e o moleque na sala estava
ameaçando dizer pra professora que ele tinha roubado. Onde já se viu? Roubar as
próprias coisas. – Droga. – Não tinha
como comprar outras não, caderno já estava no fim também. Talvez a professora
pudesse arranjar outro, ela que passa tanto dever, já está no livro, porque ele
tinha que copiar tudo? Isso não é problema pra agora. Basta se concentrar em
chegar em casa.
Finalmente – pensou aliviado, ao abrir a porta da sala. Pegou
os chinelos na mão e levou pro quintal.
- Cheguei. Benção? – falou pra avó que tinha ido ver o que
ele fazia.
- Deus abençoe. – e tossiu. Tossiu muito. Ele ficou
preocupado.
– Vá tomar banho pra poder almoçar. Deixa pra ajeitar isso ai
depois. – falou ela, indo pra geladeira e encheu um copo com agua e bebeu.
Jogou a mochila em cima da cama. Pegou a roupa e levou pro
banheiro. No almoço, falou pra avó que tinha que ir pra escola naquela tarde.
- Fazer o que? – Achou estranho a velha senhora.
- Reforço. Reforço de português.
- Então tá certo. Mas é pra ir mesmo. Não é pra ficar
correndo no ‘mei’ da rua não. Já disse que não quero mais meu “fi” andando lá
pra baixo não. Terminar lá, é pra vir direto pra casa.
- Sim senhora. Vou mais pra lá não.
Lavou os pratos do almoço.
Ficou vendo televisão com a avó. Quando ela adormeceu, ele foi trocar de roupa
para ir a escola. Enquanto saia, ficou lembrando que a professora poderia manda-lo
de volta pra casa, porque não tinha material.