quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Cabeça baixa. Caminhar rápido, o mais rápido que pudesse dar, enquanto tentava não ser notado. A postura não negava seu desconforto. Braços colados ao corpo, apertando a alça da mochila contra o ombro. A chinela não queria ficar no pé, tinha quebrado de vez. Ele só queria chegar na rua de casa, aquilo lhe bastaria pra tirar o calçado do pé, e correr pra casa, lá ele tentaria ver se outro prego funcionaria, mas no fundo sabia que não era mesmo uma opção; só que jogar fora também não.
- Droga. - Lembrou que o lápis e a caneta não estavam mais com ele. Tinha emprestado. Tinha emprestado? Certeza que não iam mais aparecer. Ele só entregou porque não podia mais arranjar confusão, e o moleque na sala estava ameaçando dizer pra professora que ele tinha roubado. Onde já se viu? Roubar as próprias coisas.  – Droga. – Não tinha como comprar outras não, caderno já estava no fim também. Talvez a professora pudesse arranjar outro, ela que passa tanto dever, já está no livro, porque ele tinha que copiar tudo? Isso não é problema pra agora. Basta se concentrar em chegar em casa.
Finalmente – pensou aliviado, ao abrir a porta da sala. Pegou os chinelos na mão e levou pro quintal.
- Cheguei. Benção? – falou pra avó que tinha ido ver o que ele fazia.
- Deus abençoe. – e tossiu. Tossiu muito. Ele ficou preocupado.
– Vá tomar banho pra poder almoçar. Deixa pra ajeitar isso ai depois. – falou ela, indo pra geladeira e encheu um copo com agua e bebeu.
Jogou a mochila em cima da cama. Pegou a roupa e levou pro banheiro. No almoço, falou pra avó que tinha que ir pra escola naquela tarde.
- Fazer o que? – Achou estranho a velha senhora.
- Reforço. Reforço de português.
- Então tá certo. Mas é pra ir mesmo. Não é pra ficar correndo no ‘mei’ da rua não. Já disse que não quero mais meu “fi” andando lá pra baixo não. Terminar lá, é pra vir direto pra casa.
- Sim senhora. Vou mais pra lá não.
Lavou os pratos do almoço. Ficou vendo televisão com a avó. Quando ela adormeceu, ele foi trocar de roupa para ir a escola. Enquanto saia, ficou lembrando que a professora poderia manda-lo de volta pra casa, porque não tinha material.