quinta-feira, 6 de agosto de 2015

5 minutos de lagrimas

Ele usava toda sua força e concentração para evitar que as lagrimas saíssem de seus olhos, não tinha certeza se os outros notavam esse esforço ou mesmo as lagrimas insistindo em se manifestar. Ele ouvia o que era dito, mas naquele momento ele só conseguia pensar que queria cinco minutos para poder chorar tudo aquilo que pesava em seus ombros, para talvez gritar o ódio em seu peito, para alimentar a raiva que brotava em meio aos outros sentimentos. Apenas 5 minutos, só isso e ele já se daria por satisfeito. Mas o mundo não para por ninguém, o “seu mundo” pode acabar e recomeçar diversas vezes, mas o “mundo real”, esse não vai parar. Não é a primeira vez que este pensamento vem a sua mente, ele vem e fica repetindo: - Esse não sou eu, não é como eu sou... Mas eu só queria parar, só queria que dessa vez houvesse alguém lá por mim.
Aquilo é verdade, ele não está habituado a ser ele quem está “quebrado”; ele é quem faz os outros rirem, ele é quem dá o espaço, os ouvidos e a piada boba ao fim de uma história triste, para mostrar que sorrir ainda é possível mesmo depois de péssimos momentos. Ele sabe disso, e fica repetindo para si, é disso que ele precisa, ele precisa ter certeza disso. Não demora, para que tudo isso acabe, a moça ao seu lado insiste em conversar, em não deixar pedra sobre pedra, isso é muito bom, ele consegue reconhecer, e isso já é bem mais do que ele esperava. Ele não tem certeza se ela viu as lagrimas, ou se conseguiu ser rápido o suficiente em disfarça-las; provavelmente ela apenas as tenha ignorado, para não forçar nenhuma situação ou mesmo piorar aquele momento que já não era dos melhores. Eles conversam, e logo ele está fazendo o que lhe é mais automático, ele faz de tudo para lhe roubar sorrisos, e com isso sinalizar que está tudo bem, que eles estão bem, que ainda serão amigos por mais dezenas de anos, e sentarão juntos por mais outras dezenas de viagens e sempre que necessário.
É isso que ele faz, ele decide desabafar com ela, mas é mais difícil do que imaginava, é assim que ele é, ele se sente mal de vez em quando, e na maior parte do tempo, pensava que conseguia ignorar, disfarçar, ser alguém melhor enquanto estivesse com aqueles malucos que gostava de chamar de amigos. Mas algumas vezes a “dor” era maior que ele próprio, e ele se sentia muito mal. As palavras de seu outro amigo, o fizeram ver que aquele era um dos dias em que ele não conseguia disfarçar, seu semblante hora aéreo e hora muito sério, denunciavam com bastante clareza que não era seu melhor dia. Logo que notou em si esse comportamento, seu lado mais cômico foi solicitado a se fazer presente, e após uns breves momentos fazendo seu melhor, sendo divertido e dando espaço que os outros fizessem suas próprias graças, a tristeza o venceu mais uma vez, e esse foi o golpe definitivo; uma voz conhecida foi quem decretou o quanto ele não estava bem:  – Porque você está assim hoje?
É uma ótima pergunta, ele pensa consigo, tentando se abster de responder, são muitas dores, e elas não poderiam ser relatadas ali, principalmente não naquele espaço; logo apenas respondeu com seu melhor sorriso de olhos fechados, (que é quando ele sorri a ponto de fechar um pouco os olhos), mesmo fazendo isso apenas quando está nervoso ou quando não sabe bem como responder ele espera que tenha sido “natural” o suficiente. Apenas dois minutos o separam da conversa que terá com a moça que o indaga sobre o que aconteceu e se ele poderia desculpá-la por qualquer coisa que ela tenha feito, e logo ele se verá desejando apenas 5 minutos, para se preparar melhor e ver aquilo tudo passar.

O dia seguirá seu rumo, sua rotina, mas esse acontecimento ainda ecoará na cabeça dele, sua visão de si mesmo ganhará novas cores, quem sabe conseguirá resolver-se melhor com seus demônios internos, com alguma sorte seguirá mais feliz sabendo que seus amigos querem ouvi-lo também, e ele continuará seguindo, com seu mundinho sendo abalado de tempos em tempos, mas com ao menos alguns sorrisos compartilhados para ajudar a se refazer das quedas.

A garota

Talvez seu coração já esteja carregado demais para se permitir ser diferente, talvez ela apenas tenha se machucado, o que explicaria facilmente sua agressividade em momentos aparentemente banais, eu poderia dizer que entendo, mas isso não significaria muito; faz todo sentido para mim, mas eu estou apenas achando isso tudo, não lembro se ela já me respondeu isso de alguma forma. Me concentro mais um pouco nela, ironicamente eu não consigo ter muitas certezas a seu respeito, e isso me deixa tão “feliz” (mais uma palavra que não tenho certeza se deveria usar), a vejo bem menos hoje em dia, e algo sempre me diz que ela tem muita coisa guardada, essas pequenas “raivas” que mencionei, não chegam sozinhas, é como se os olhos dos outros estivessem sempre em seu encalço, e isso sim me incomoda. Não há nada que eu possa fazer. Ela se sente julgada, e talvez até seja mesmo; como se já tivesse recebido apontamentos, e olhares impiedosos, e mais uma vez me vejo impassível, pois tudo isso eu sinto e deduzo pela forma que ela fala, e pelo o que ela deixa entender com fragmentos de histórias. Mas ela é forte, durona, quase agressiva, como se revidasse, ou acumulasse até revidar tudo, no seu próprio dia de fúria.
Eu gosto quando ela sorri, mas principalmente por não saber descrever direito seu sorriso, e por desconfiar que ao longo do tempo que a conheço, ele tenha aparecido menos vezes do que eu gostaria, e ainda mesmo com todo meu esforço, eu tenha o causado pouquíssimas vezes; talvez ela possa ver isso como um defeito em mim, eu estou sempre tentando algo, tentando faze-la sorrir, tentando dizer-lhe que ela é especial, tentando agradece-la, tentando evita-la, sempre tentando... Mas isso não é sobre mim, é sobre essa garota que é... ainda não sei se consigo descreve-la totalmente.
Ela fala de si na 3ª (terceira) pessoa, e isso é muito interessante, e bem divertido, não tem como esquecer disso nela. Imagino mais uma vez como descreve-la, para fazer esse relato mais relevante, mas talvez tudo tenha ficado fora da ordem certa, se existir alguma. Ela trabalha e estuda; ela trabalha demais, e estuda mais ainda. Meu “estilo” talvez não combine em nada com ela, mas eu não consigo evitar de me aproximar dela quando tenho a chance, a sua seriedade me incomoda, ela chega a ser acida em seus comentários, suas críticas, mas não é como se me incomodasse de um jeito tão ruim, apenas me incomoda quando não tenho mais o que falar além de momentos num futuro, aqueles planos que você faz, mas que dificilmente vão sair do “vamos marcar” ...
Percebo agora, com um pouco de culpa, que não conheço ela o suficiente, e talvez, eu tenha usado talvez’ de mais nesse relato, que deveria ser uma descrição. Se ela é bonita? Sim claro que é, eu a acho sim muito bonita; mas não é disso que se trata isso tudo. Ela é inteligente, esforçada, dedicada, responsável, sincera, honesta, (o que parecem ser a mesma coisa mas não são exatamente, ou eu penso que não). Ela é gentil, determinada, e chata também, (mas isso porque como que já disse temos estilos diferentes, e é impossível acharmos todos legais todo o tempo).
Eis uma última descrição para que isso não fique tão superficial o quanto eu tenho medo que tenha ficado.
“Ela caminha em direção ao ponto de encontro rotineiro, ela está sozinha, mas nem todo o trajeto foi assim, disso eu sei; Ela tem passos firmes. Talvez por ainda ser muito cedo, ela não esboce qualquer sentimento, uma seriedade comum domina seu rosto, mais uma vez penso ser por conta do horário, a não ser que ela tenha alguma prova, isso costuma tirar todos de sua zona de conforto, nos tornando mais rígidos do que seriamos. Logo o ônibus que nos levará chega, não prestei atenção se ela conversava ou não com alguém, isso me daria alguma ideia sobre seu humor, mas não importa agora, estamos dentro do veículo, e a rotina segue igual a qualquer dia. Penso no quanto ela deve estar cansada, mesmo sendo apenas o início da semana, ela dorme boa parte do trajeto, hoje é um dos dias que ela não pretende se manifestar sobre nada; logo chegamos ao destino comum a todos nós, cada um segue seu caminho, só a verei de novo depois de algumas horas, e já posso adiantar que não conversaremos muito neste próximo encontro, e não existe motivo para isso, apenas acho que não haverá do que falarmos, e isso não é necessariamente ruim, é apenas assim que as coisas acontecem. As horas se passaram, agora estamos no caminho de volta, ela sorri um pouco, trocando piadas com os outros, isso é bom. Logo ela se senta, hoje percebo quase que é quase como uma fórmula que ela segue, após trocar as palavras com alguns amigos, ela se cala, observa um pouco as conversas a sua volta, e depois se volta para a janela; é impossível saber o que se passa em sua mente, e eu não ousaria perturbá-la com isso, não existe motivo, prefiro que ela descanse pelos próximos minutos, imagino que ainda existem muitas coisas para acontecerem em seu dia, e esse foi só o começo do dia, o começo da semana, e ironicamente o começo do mês. Eu mais uma vez me despeço, com a sensação de que, mesmo com apenas 2 horas dividindo o mesmo espaço, eu a conheço um pouquinho mais, e isso é bom. Quem sabe eu logo consiga descreve-la de forma melhor, quem sabe o que ainda pode acontecer?!”.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Apenas fale comigo - (Depois de um sonho)

- Não, não quero mais falar com você – Ela estava ficando com raiva, mas existia uma tristeza em sua fala como se em algum momento ela fosse desabar e começar a chorar.
- Eu preciso que você me escute ao menos isso. – Ele se aproximava devagar, sabia que não podia deixar para depois, aquele era o momento de colocar tudo para fora e resolver a situação.
-Não, eu não quero... – ela respondia com menos força do que das primeiras vezes.
Ela encostou na parede com a lateral de seu corpo, escondendo o rosto, seu cabelo caia um pouco sobre seu rosto, seus olhos tinham uma mistura muito perigosa de raiva e dor.
Ele se aproximou e com sua mão tentou puxa-la para mais perto, ela se recusa e ele se contentou com apenas deixa-la de frente a ele, ela não o olhava apenas alterna entre alguns “não’s” e se desvencilhava sempre que ele tentava tocar seu rosto ou sua mão.
Tudo aquilo já era demais, não adiantava mais fingir que nada tinha acontecido, ou que não era o momento certo para terem uma conversa, e por mais errado que fosse aquele momento, ainda precisava acontecer, ou ao menos era o que ele ficava repetindo para si mesmo.
Ele então parou, deu um passo para trás, e deu um pouco de espaço para ela, que com essa ação, se endireitou e o olhou, seus olhos um tanto vermelhos, suas mãos segurando os próprios braços, como se tentasse se fechar para toda aquela situação.
Depois de alguns segundos se olhando, ele respirou fundo mais uma vez e começou a falar:
- Olha eu sei o que passa pela sua cabeça, eu sei o que você sente, eu só quero que você seja sincera comigo.
Mais uma vez ela baixou seu olhar, e em resposta ele levemente tocou seu rosto, agora coberto por mechas de cabelo, ele a olhou novamente nos olhos e decidiu continuar.
- Você ama ele... tudo bem, mas apenas me diga... eu sei de tudo o que aconteceu... ele é importante para você? – suas mãos tiravam os fios que ainda restavam sobre a face dela, e logo uma mão estava sobre o braço dela, e a outra insistia em tocar-lhe o rosto, era como se ele precisasse senti-la, ter qualquer confirmação de que aquilo estava acontecendo de que ela o estava ouvindo.
- Mais que droga, eu gosto de você, e eu percebi que não estamos em sintonia... para você é diferente... eu apenas preciso que você fale comigo...
- Porque você fica dizendo isso?  - ela finalmente falou, mas sua voz ia começando a sair com dificuldade, a qualquer momento ela podia começar a chorar.  – Você fica colando essas palavras, como se eu tivesse dito... e como se...
Ela apenas a olhava, com um pouco de surpresa.
-Eu nunca disse nada disso, e eu não quero dizer, eu não preciso dizer nada disso – ela continuava como se tivesse tomado folego para dizer apenas essas palavras, e as próximas vieram num tom mais baixo.
- Eu amo você – Ela falou, e uma lagrima desceu por seu rosto. – eu te amo...
- Mas eu.... – ele realmente pensou em iniciar sua fala novamente, mas apenas falou – Eu te amo muito, é sério, eu realmente preciso de você, eu quero significar mais, quero ser importante para você, quero estar com você... eu apenas te amo.
Seus olhares carregavam um tipo de culpa, ansiedade e confusão. Era assim que suas mentes estavam; uma mistura de emoções e sentimentos e muitos deles tão contrastantes, a raiva que ela sentia por ter evitado aquilo até aquele momento, e raiva dele por ter insistido tanto em ter aquela conversa, mas estava tão feliz por conseguir responder claramente e sem dúvidas em seu coração.
Apenas mais algumas palavras foram ditas, mas dessa vez ao mesmo tempo e com a respiração descompassada:
- Eu te amo – Os dois se olhavam enquanto as palavras eram desenhadas por seus lábios.
Ele tomou a iniciativa, sua mão descia pela nuca dela, e a outra envolvia sua cintura, enquanto as duas bocas seguiam buscando uma a outra, numa beijo que tinha tanta paixão, que parecia que eles haviam esperado uma vida para consumar aquele ato.

De longe, eles eram apenas mais um casal, ela com os braços em volta do pescoço dele, e ele a segurando pela cintura, intercalando beijos, sorrisos e olhares, que finalmente só transmitiam alegria, mesmo com as lagrimas que insistiam em percorres suas faces.

Bruno P. Trajano