Ele usava toda sua
força e concentração para evitar que as lagrimas saíssem de seus olhos, não
tinha certeza se os outros notavam esse esforço ou mesmo as lagrimas insistindo
em se manifestar. Ele ouvia o que era dito, mas naquele momento ele só
conseguia pensar que queria cinco minutos para poder chorar tudo aquilo que
pesava em seus ombros, para talvez gritar o ódio em seu peito, para alimentar a
raiva que brotava em meio aos outros sentimentos. Apenas 5 minutos, só isso e
ele já se daria por satisfeito. Mas o mundo não para por ninguém, o “seu mundo”
pode acabar e recomeçar diversas vezes, mas o “mundo real”, esse não vai parar.
Não é a primeira vez que este pensamento vem a sua mente, ele vem e fica
repetindo: - Esse não sou eu, não é como eu sou... Mas eu só queria parar, só
queria que dessa vez houvesse alguém lá por mim.
Aquilo é verdade, ele
não está habituado a ser ele quem está “quebrado”; ele é quem faz os outros
rirem, ele é quem dá o espaço, os ouvidos e a piada boba ao fim de uma história
triste, para mostrar que sorrir ainda é possível mesmo depois de péssimos
momentos. Ele sabe disso, e fica repetindo para si, é disso que ele precisa,
ele precisa ter certeza disso. Não demora, para que tudo isso acabe, a moça ao
seu lado insiste em conversar, em não deixar pedra sobre pedra, isso é muito
bom, ele consegue reconhecer, e isso já é bem mais do que ele esperava. Ele não
tem certeza se ela viu as lagrimas, ou se conseguiu ser rápido o suficiente em
disfarça-las; provavelmente ela apenas as tenha ignorado, para não forçar
nenhuma situação ou mesmo piorar aquele momento que já não era dos melhores.
Eles conversam, e logo ele está fazendo o que lhe é mais automático, ele faz de
tudo para lhe roubar sorrisos, e com isso sinalizar que está tudo bem, que eles
estão bem, que ainda serão amigos por mais dezenas de anos, e sentarão juntos
por mais outras dezenas de viagens e sempre que necessário.
É isso que ele faz, ele
decide desabafar com ela, mas é mais difícil do que imaginava, é assim que ele
é, ele se sente mal de vez em quando, e na maior parte do tempo, pensava que
conseguia ignorar, disfarçar, ser alguém melhor enquanto estivesse com aqueles
malucos que gostava de chamar de amigos. Mas algumas vezes a “dor” era maior
que ele próprio, e ele se sentia muito mal. As palavras de seu outro amigo, o
fizeram ver que aquele era um dos dias em que ele não conseguia disfarçar, seu
semblante hora aéreo e hora muito sério, denunciavam com bastante clareza que
não era seu melhor dia. Logo que notou em si esse comportamento, seu lado mais cômico
foi solicitado a se fazer presente, e após uns breves momentos fazendo seu
melhor, sendo divertido e dando espaço que os outros fizessem suas próprias graças,
a tristeza o venceu mais uma vez, e esse foi o golpe definitivo; uma voz
conhecida foi quem decretou o quanto ele não estava bem: – Porque você está assim hoje?
É uma ótima pergunta,
ele pensa consigo, tentando se abster de responder, são muitas dores, e elas
não poderiam ser relatadas ali, principalmente não naquele espaço; logo apenas
respondeu com seu melhor sorriso de olhos fechados, (que é quando ele sorri a
ponto de fechar um pouco os olhos), mesmo fazendo isso apenas quando está
nervoso ou quando não sabe bem como responder ele espera que tenha sido “natural”
o suficiente. Apenas dois minutos o separam da conversa que terá com a moça que
o indaga sobre o que aconteceu e se ele poderia desculpá-la por qualquer coisa
que ela tenha feito, e logo ele se verá desejando apenas 5 minutos, para se
preparar melhor e ver aquilo tudo passar.
O dia seguirá seu rumo,
sua rotina, mas esse acontecimento ainda ecoará na cabeça dele, sua visão de si
mesmo ganhará novas cores, quem sabe conseguirá resolver-se melhor com seus demônios
internos, com alguma sorte seguirá mais feliz sabendo que seus amigos querem
ouvi-lo também, e ele continuará seguindo, com seu mundinho sendo abalado de
tempos em tempos, mas com ao menos alguns sorrisos compartilhados para ajudar a
se refazer das quedas.
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