segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Garota ( Indecifrável). pt.2

Eu ainda adoro quando ela sorri. Mas descobri que, ironicamente, eu gosto muito do som do seu riso, mas quando ele vai acabando. O seu tom diminui. Sua voz já não tem nenhum traço de qualquer sentimento ruim. E ela passa a ser um exemplo perfeito da “inflexão do sorriso”. Eu quase posso dizer, que nesse momento, ao ouvir sua voz e olhar seu sorriso, eu não negaria nenhum pedido seu.
Adoraria dizer que já sei o que se passa em seu coração. Mas minhas reflexões só me levaram a entender que eu não preciso entender. Ela é apenas quem ela quiser ser. E cada um terá dela o que merecer. Isso soa quase clichê, eu sei. (Mas foi bonitinho, rimou até) Mas estamos falando de uma pessoa aqui. A complexidade caminha junto dos padrões universais.
Não quero que pareça que eu desisti de entende-la, nem qualquer coisa do tipo. Eu ainda gosto dela. E ainda acho válido tentar conhecer mais daquilo que ela guarda só para si. Das coisas que a fazem ser quem é. Em certo momento achei relevante apenas mudar a abordagem. Chegamos ao ponto das perguntas diretas. Não que tenham sido tão reveladoras assim....
- O que você pensa sobre isso...? – era algo relevante apenas na hora, então não preciso especificar a pergunta agora. Afinal, interessante foi sua resposta:
- Não sei.
- O que acha daquilo? – eu insisto em insistir.
- Sei lá... – ela respondeu de maneira natural, e eu quase acreditei que ela não tivesse mesmo qualquer opinião sobre o assunto.
- Você vai me dar alguma resposta que não seja “não sei”?
- Não sei.
- Por que?
- Por que não. - Essa foi, devo admitir, diferente...
E ela riu de novo. Fui vencido pelo cansaço.
Falar na terceira pessoa ainda é uma característica cativante que ela possui. Posso afirmar que é algo que lhe distingue de qualquer outra. E ela conseguiu evoluir isso. Devo admitir que no início me senti excluído, pois quando dei por mim estava no meio de uma discussão que ela tinha consigo mesma. Só me restava apreciar a sutileza com que usava uma bela retorica em voz alta, abordando o que pretendia fazer, e rebatia de maneira eloquente o seu próprio argumento. O que me pareceu completamente lógico, e muito inteligente ainda mais quando no fim ela venceu o debate.
Eu aprendi, (ou quase isso) recentemente, que se deve viver o momento em que se está inserido, totalmente. Não se deixar distrair e com isso perde-lo por qualquer motivo. Viva plenamente e aproveite cada segundo dos momentos que sabe que serão únicos. É algo complicado de se fazer. É difícil aceitar tal filosofia, e tentar não se deixar levar por sentimentos conflitantes. Imagine que eu me vi assim enquanto dialogava com a garota. Eu sei da importância de se aproveitar as boas companhias, mas a plena atenção é ainda mais complicado para mim, quando assumo como missão, compreender as ações dela.
Ela se aproxima com um lanche qualquer, seus passos sempre decididos. Não reconheço real pressa em suas ações. Mas ainda assim são rápidas, e imperativas. Um reflexo, eu imagino, de seu subconsciente que deseja transparecer a todo instante plena certeza sobre todos os seus atos. Eu recuso sua oferta em dividir, e repito a negativa em todas as suas insistências. Me divirto contrariando-a de maneira tão boba.
Eu a observo, enquanto ela me conta sobre sua última frustração. É algo relativamente banal, mas ela expõem de maneira que eu me vejo com raiva do terceiro personagem de sua história. Isso me diverte, e a ela também. E surpreendentemente ela conclui dizendo que deixou passar, não está mais com raiva e conclui tomando apenas nota mental de que algo do tipo nunca se repetirá. Eu sei que não preciso opinar, então me perco mais uma vez pensando, enquanto ela come. Fico tentando arranjar explicações e quem sabe padrões que justifiquem seus julgamentos e suas frustrações. Mas a resposta não vem. E finalmente entendo, que ela não precisa vir.
Eu tenho minha opinião sobre suas ações, mas ela nunca me pediu por isso.  Acho que nem me pediu que a escutasse, eu fui um ouvinte voluntário. Tudo que sei sobre ela se mistura e então toma forma, e finalmente tenho meu insight a seu respeito: por mais julgada que ela possa ser, ela não se abaterá com isso.
Quando essa ideia finalmente se acomoda em minha mente, percebo que o tempo voou, e ouvi sua risada menos vezes do que gostaria. E a data para um próximo encontro é completamente incerta. Isso me aborrece, mas dessa vez bem menos. Pois agora eu tenho uma certeza sobre ela.  A certeza de que ela permanecerá como é, fiel a si mesma e seus princípios, não importando os olhares recebidos. Tenho plena consciência agora, de que seu jeito não pode ser visto apenas como uma consequência de seus sentimentos, mas sim uma parte de quem ela é.
Ainda não saberei seus motivos secretos, das coisas que guarda para si e das que a machucam. Talvez eu não possa “entender”. E tão pouco acho que conseguirei uma resposta melhor do que o “não sei” quando se tratar da sua opinião sobre determinados assuntos. Entretanto, permaneço muito interessado nela. Afinal quem sabe o que o futuro reserva? E o que ainda pode acontecer? Ainda anseio conseguir melhores respostas. Mas já me contento em não receber os nãos.



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